Banda Produto Nacional celebra 35 anos de reggae no Rio Grande do Sul: "Uma vitória imensurável"
Imagem: Roger Gloeden / Divulgação
Fonte: Camila Bengo - GZH
O reggae do Rio Grande do Sul está de aniversário. A festa será na noite desta sexta-feira (2), a partir das 23h, no Bar Opinião, em Porto Alegre. É lá que a banda Produto Nacional reunirá diferentes gerações de regueiros gaúchos para celebrar os 35 anos da sua fundação, tida como marco da história do gênero jamaicano no Estado.
Projetado ao mundo em 1974, quando Eric Clapton gravou a canção I Shot The Sheriff, de Bob Marley, o reggae começou a se popularizar no Brasil no final da década de 1970, tendo o Maranhão como porta de entrada. No Rio Grande do Sul, os primeiros acordes do estilo foram dedilhados pelas mãos de Luis Vagner Guitarreiro – figura central também na história do suingue.
Já a primeira banda de reggae surge em 1987, batizada de Direitos Iguais. A segunda, Produto Nacional, vem dois anos depois, em 1989, abrindo passagem para a Motivos Óbvios, terceira banda de reggae do Rio Grande do Sul, fundada em 1990.
— Esses três grupos formam a santíssima trindade do reggae gaúcho. Tudo o que existe no Sul, de Chimarruts a Armandinho, deve deferência a Luis Vagner Guitarreiro e a essas três bandas — afirma Claudiomar Carrasco, produtor cultural especializado no gênero musical.
Dentre os grupos pioneiros do reggae gaúcho, Produto Nacional foi o único que sobreviveu ao tempo. A banda experimentou diferentes formações ao longo dos anos, mas nunca parou. Atualmente, tem os fundadores Paulo Dionísio (voz) e Jorge Cidade (saxofone) ao lado de Tom Junior (guitarra), João Antônio Costa (bateria), Isnard Prates (contrabaixo) e Renato Batista (trompete).
Todos os seis integrantes são negros — algo que, conforme Carrasco, tornou-se raro na cena reggae do país.
— Você consegue contar nos dedos (as bandas inteiramente negras). Eu não tenho nada contra os brancos do reggae, o problema é que essa miscigenação se tornou praticamente obrigatória para que os grupos cresçam. É como se quisessem o reggae, quisessem o dread, mas não quisessem o preto — reflete o produtor.
— No Rio Grande do Sul, se você analisar quais bandas e artistas de reggae são conhecidos no resto do país, verá que são os brancos. Isso torna ainda mais louvável a trajetória de uma banda como a Produto Nacional — completa.
Isnard Prates, João Antônio Costa, Tom Junior, Jorge Cidade, Renato Batista (E para D) e Paulo Dionísio (abaixo) formam a banda Produto Nacional.Roger Gloeden / Divulgação
Reconhecer as lutas e celebrar as vitórias
Vocalista e um dos fundadores da banda, o músico Paulo Dionísio se orgulha da resiliência demonstrada pelo Produto Nacional ao longo dos últimos 35 anos. Foram três discos de estúdio e um DVD lançados, todos com muito suor, e uma extensa lista de canções autorais tidas como obrigatórias para a massa regueira do RS.
— O reggae é uma música negra, oriunda dos guetos jamaicanos, e sabemos que o nosso Estado tem certa resistência a esse tipo de cultura. Para nós, é uma vitória imensurável chegar aos 35 anos fazendo o que a gente faz, em uma cidade como Porto Alegre, cumprindo a missão de levar mensagens positivas às pessoas — diz o músico.
— É claro que a caminhada não é fácil, tanto que muitos dos nossos irmãos não puderam continuar. Mas, hoje, o reggae é uma realidade no Rio Grande do Sul. A gente vê os nossos primeiros fãs indo aos shows com os seus filhos e netos. Isso nos dá a dimensão de que, mesmo tendo uma discografia relativamente pequena, construímos um legado que tem muito valor e que vai se perpetuar — afirma.
Na noite desta sexta, a banda pretende "reconhecer as lutas e celebrar as vitórias". E fará isso com música. Clássicos como Esperança, Reggae Paradise, Oprimidos e Opressores e A Mão do Justo embalarão o público junto trabalhos recentes, como a canção O Amor é seu Guia. Também haverá espaço para tributos a referências gaúchas como Luis Vagner, Bedeu e Bebeto Alves — idealizador do primeiro registro fonográfico do reggae no Estado, o LP Porto Reggae, de 1991.
A festa ficará completa com as participações da banda Sintonize, do duo 50 Tons de Pretas, da banda Positive Dub e da cantora Marietti Fialho, ex-vocalista da Motivos Óbvios.
— Ela é a nossa diva, a nossa rainha suprema. É impensável nós fazermos qualquer coisa sem chamá-la — diz Dionísio, avisando:
— Será uma noite para dançar, cantar e se divertir. Queremos proporcionar algo bom às pessoas e levar aquilo que é a essência do reggae para dentro do Opinião: o amor, a esperança e a crença de que podemos caminhar juntos enquanto humanidade.